
ORÁCULO DO SENHOR (Jr 31, 16-22)
Final
Levanta marcos para ti,
coloca indicadores de caminho,
presta atenção ao percurso,
no caminho por onde caminhaste.
Volta, Virgem de Israel!
Volta para estas tuas cidades!
Até quando irás de cá para lá,
filha rebelde?
Porque o Senhor cria algo de novo na terra:
A mulher corteja seu Marido (vv. 21-22).
Gostaria de introduzi-los nesse último tema contando-lhe a estória de João e Maria dos Irmãos Grimm. Acredito que ela pode nos fazer compreender bem o que significa colocar marcos e indicadores no caminho.

João e Maria é um conto que relata as aventuras de dois irmãos, filhos de um pobre lenhador e que moravam na floresta com seu pai e sua madrasta. Um dia, enquanto seu pai trabalhava, a madrasta de João e Maria estava fazendo uma torta. Ela saiu para colher amoras na floresta e pediu pra João e Maria cuidassem da casa enquanto ela estivesse ausente. Quando ela voltou da floresta encontra a casa toda bagunçada e a torta que estava preparando, no chão. Ela ficou muito brava com João e Maria e resolveu mandar eles mesmos irem colher amoras na floresta.
Floresta a dentro, as crianças iam jogando migalhas de pão no chão para que pudessem encontrar o caminho de casa pela trilha feita. Porém, quando resolvem voltar para casa percebem que as migalhas haviam sido comidas pelos pássaros da floresta e que estavam perdidos. Enquanto procuravam o caminho de volta para casa, João acaba achando uma casa feita de doces no meio da floresta. Com muita fome depois de tanto tempo procurando o caminho de volta para casa, João chama Maria para que eles comessem as guloseimas da casa. Enquanto as crianças se deliciavam com os doces uma velha (bruxa) aparece de dentro da casa e os convida para entrar.
Lá dentro, a velha (bruxa) lhes ‘empurra’ mais comida ainda. Porém, toda a aparente gentileza da senhora não passava de um plano para comer as criancinhas. Ela prende João e Maria para que pudesse assá-los, porém, espertas, as crianças descobrem o plano da bruxa e a enganam, atirando-a para dentro do forno que ela usaria para cozinhá-los. Livres da bruxa, João e Maria são encontrados pelo pai, cuja mulher havia morrido, e voltam para casa levando consigo o dinheiro que estava dentro da foice da bruxa, suficiente para o resto de suas vidas.
Assim como João e Maria, podemos correr o risco de colocarmos marcos provisórios ao longo da nossa vida com Deus. Isso acontece quando conduzimos nossa vida com Ele de qualquer jeito; na base do improviso, ou de um mero dever a ser cumprido, ou de forma superficial e distraída. O risco que corremos ao conduzir nossa vida com Deus dessa maneira é que se, por um acaso, nos perdermos ao longo do percurso, não saibamos mais encontrar o caminho de volta; de que se nossa fé for provada ao longo do caminho não saibamos mais encontrar os indicadores que nos orientem para onde seguir.
O termo indicador tem origem no latim indicare, verbo que significa apontar. Indicadores servem, portanto, para indicar um caminho. Como os sinais de transito que servem para orientar, informar, regular e advertir. Os sinais de trânsito dão indicação para que os andantes e os condutores circulem com segurança. Sem eles as cidades seriam um caos, pior do que já são.
Por outro lado, de nada adiantaria tais sinais se, por estarmos distraídos, não lhes prestássemos atenção.
Algumas distrações, como o uso do celular ao dirigir, são fatais. O uso do aparelho ainda é a maior causa mundial de acidentes de trânsito, pois é a que mais distrai o motorista. Muitas pessoas andam falando ao telefone, mandando mensagens e até tirando fotos, o que

compromete muito na concentração, além de ser uma infração de trânsito. O uso de fones para ouvir música que, também, é proibido na hora de dirigir, pois é preciso ouvir e ver tudo que está acontecendo a sua volta, é outro responsável por um grande número de acidentes.
O ato de dirigir passa a ser tão natural depois de um tempo, que os motoristas se sentem à vontade para fazer outras atividades enquanto dirigem. Mas o problema é que a rua tem outros carros, pedestres, buracos e árvores que aparecem no caminho. Três segundos de distração é o suficiente para causar uma batida ou até um acidente maior.
Outro fator que atrapalha a atenção do motorista é o fato de ficar se olhando no espelho para arrumar o cabelo, retocar a maquiagem ou até tirar um cisco do olho. Alguns estudos afirmam que até o uso do GPS tem causado distrações nos motoristas, pois em vez dele olhar para a estrada, presta atenção pelo caminho no GPS. O aparelho é uma excelente ajuda, entretanto precisa ser usado com uma certa cautela. Os outdoors, propagandas chamativas e até paisagens bonitas são outros fatores que, também, distraem o motorista.
Me digam se não é exatamente assim que conduzimos, na maioria das vezes, a nossa vida com Deus? Tudo nos distrai. Tudo rouba o nosso tempo. Tudo se torna desculpas para continuarmos improvisando nossa vida com o Senhor. Temos disposição para quase tudo nessa vida, mas, se tratando das coisas d’Ele, deixamos sempre para depois ou as fazemos de forma superficial e as pressas. Pare e pense se já não faz um bom tempo que Deus não tem vivido do teu resto; do resto do teu tempo, do resto das tuas forças, do resto dos teus dias.
Queres estar com o Senhor, mas sempre te encontras a divagar pelo caminho ou até mesmo por outros caminhos. Depressa as sensações te fazem perder o foco.
Na Antiga Aliança, a Lei de Deus estava fora de nós, como uma placa de limite de velocidade, para nos dizer o que fazer. Mas, como adolescentes num carro esporte, não éramos inclinados a obedecer à lei. Víamos a placa como uma limitação da nossa alegria, não como medida de segurança. Deus tinha todo o direito de exigir obediência. A lei era [e é] boa. Só havia um probleminha; não tínhamos disposição para cumpri-la. Não conhecíamos Deus o bastante para nos deixarmos invadir pela sua bondade. Dirigir dentro do limite de velocidade parecia uma espécie de “estraga prazer”.
Mas com a vinda do Espirito Santo cumpriu-se aquilo que Deus havia dito pelos lábios do profeta Jeremias: Porei minha lei no fundo de seu ser e a escreverei em seu coração. Então serei seu Deus e eles serão meu povo (Jr 31,33). A Lei deixaria de ser algo puramente exterior para tornar-se inspiração que atinge o coração do homem: Eu lhes darei um coração único e um caminho único para que Me temam, todos os dias, para o seu bem e os de seus filhos, depois deles. Selarei com eles uma aliança eterna, pela qual Eu não deixarei de segui-los para fazer-lhes o bem: colocarei o meu temor em seu coração, para que não se afastem mais de Mim. Terei minha alegria em fazer-lhes o bem e os plantarei de verdade, nesta terra, de todo o meu coração e de toda a minha alma (Jr 32,39-41). Dará não apenas um coração único, mas também um coração novo: E vos darei um novo coração e derramarei um espírito novo dentro de cada um de vós; arrancarei de vós o coração de pedra e vos darei um coração de carne. Eis que depositarei o meu Espírito no interior de cada pessoa e vos capacitarei para agires de acordo com as minhas leis e princípios; e assim obedecereis fielmente aos meus mandamentos! (Ez 36,26-27).
Ao longo do percurso seremos tentados a pegar atalhos. O importante é que não os transformemos em caminhos paralelos. O Mal fará tudo o que puder para conservar-nos cativos. Estejamos familiarizados com as suas estratégias. Ele sussurra: “Ninguém vai ficar sabendo. Só mais uma vez. Mudar é impossível; já tentou antes e falhou. É muito tarde; você já foi longe demais.” Não deixemos que ele nos desanime.
O Espírito Santo enviará apelos a nossa consciência para que voltemos ao caminho do Senhor. Volta, Israel, para o Senhor teu Deus, porque estavas caído em teu pecado. Volta para mim (Os 14, 2). Volta, Virgem de Israel! Volta para estas tuas cidades! Retornar sempre a Ele é o único caminho de restauração e de renovação. Porque o Senhor cria algo de novo na terra.
Eis que realizo uma nova obra, que já está para acontecer. Não percebestes ainda? (Is 43,19). E o que é esse algo novo? Quem nos responde é o Apostolo Paulo: ... se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram, eis que tudo se fez novo! (2Cor 5,17).
Talvez alguém aqui já desistiu de tentar depois de tanto buscar viver a vida nova em Cristo, ou talvez alguém aqui a esteja vivendo de forma distraída ou ocupada demais com outras coisas que considera prioritárias. Pode ser ainda que entre nós haja alguém que nem sequer a tenha experimentado. Independente da situação, saibamos que Deus não desistiu de nós! O sonho d’Ele é que caminhemos ou voltemos a caminhar na Sua presença até que alcancemos todos nós a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado do Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo (Ef 4,13).
Eis que faço novas todas as coisas! (Ap 21,5).

Permita-te ficar no caminho por onde o Senhor te levar. Deixa-te ficar na Sua presença. Sabes que Ele está contigo, está em ti. Assim, neste momento, e devagar, deixa que esta presença de Deus tome conta de ti, das tuas distrações, dos teus problemas, das tuas inconstâncias e procura pacificar o teu coração entregando cada passo que vais dar a Ele.
Pe. Gilson Sobreiro, pjc
Fundador da Fraternidade O Caminho
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