top of page

Christus Vivit - Reflexão Domingo de Páscoa

“No primeiro dia da semana, Maria Madalena vai ao sepulcro, de madrugada, quando ainda estava escuro, e vê que a pedra fora retirada do sepulcro.”

Durante esta semana, fizemos um itinerário espiritual rumo à Páscoa. Desde o Domingo de Ramos, fomos conduzidos por Jesus. Ele nos tomou pela mão, para assim sairmos das trevas rumo à Luz:

“Tomando o cego pela mão, levou-o para fora do povoado e, cuspindo-lhe nos olhos e impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe: ‘Percebes alguma coisa?’ E ele, começando a ver, disse: ‘Vejo as pessoas como se fossem árvores andando’. Em seguida, Ele colocou novamente as mãos sobre os olhos do cego, que viu distintamente e ficou restabelecido, podendo ver tudo nitidamente e de longe.” (Mc 8,23-25)

A imagem do cego reflete com clareza essa caminhada que realizamos. A cada passo, era possível contemplar o caminho pelo qual o Senhor nos conduzia. E foi justamente nesse percurso que Ele nos guiou para a alegria da Páscoa.

A Páscoa é a renovação do homem — o homem novo em Deus. Essa renovação se dá em Jesus Cristo, o novo Adão. Nele já podemos saborear a alegria de uma vida que não tem fim: a vida eterna. E esta vida eterna está enraizada no conhecimento de Deus e de Seu Filho Unigênito:

“Ora, a vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo.” (Jo 17,3)

Se a Páscoa é a passagem das trevas para a luz, da morte para a vida, da ignorância para o conhecimento, do homem velho para o novo segundo Deus, do transitório para o eterno, então ela é, em si, a passagem do homem terreno para o homem celeste.

Paulo nos exorta justamente a isso:

“Se, pois, ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensai nas coisas do alto, e não nas da terra. Pois morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a vossa vida, se manifestar, então vós também com ele sereis manifestados em glória.” (Cl 3,1-4)

Fica claro, portanto, que a ressurreição de Cristo, o Cristo que vive, deve viver de modo singular em nós. Paulo afirma que morremos e que nossa vida está escondida em Deus — não num Deus morto, mas no Deus vivo e verdadeiro. Cristo ressuscitou, e com Ele nós ressuscitamos. Abandonamos o velho homem para nos revestirmos do novo, restaurado por Cristo. A ressurreição não é uma teoria, uma ideia ou uma figura de linguagem. A ressurreição é real — assim como foram reais a Paixão e a Morte de Cristo na Cruz. É uma realidade revelada na história, pelo Homem-Deus, Jesus Cristo, nosso Senhor. Por meio de Sua Páscoa, o Senhor nos abriu um Caminho Novo. Pela ressurreição, Cristo inaugurou uma estrada entre a Terra e o Céu:

“Nele temos um caminho novo e vivo, que ele mesmo inaugurou através do véu, quer dizer: através da sua humanidade.” (Hb 10,20)

Esse caminho novo não é um sonho, tampouco uma utopia. Não é uma fábula contada para crianças, nem fruto da nossa imaginação. Não se trata de uma visão ou de um mito. O que contemplamos neste domingo é um acontecimento único, que não se repete: o Filho da Virgem Maria, Jesus de Nazaré, foi descido da Cruz no entardecer da Sexta-feira Santa e sepultado. No entanto, o túmulo não pôde detê-lo. Na aurora do primeiro dia, a pedra foi removida: Cristo vive. O sepulcro está vazio. A morte foi tragada. A antiga serpente, o diabo, foi derrotado. A humanidade vive com Cristo.

No limiar deste dia, a Luz brilha nas trevas — é a grande Luz Pascal. A Luz do mundo, a Luz de Deus, rompe a escuridão deste mundo passageiro e aponta para o Eterno. Agora, cada homem e cada mulher estão unidos a Deus, pois o muro da inimizade foi destruído. Podemos voltar ao Jardim de onde havíamos sido expulsos — não mais ao Éden, figura de uma realidade ainda maior, mas ao Jardim da Ressurreição, onde o túmulo se encontra vazio. Esse é o jardim da vida que venceu a morte, o jardim da eternidade de Deus. Cristo vive e transformou este mundo vil e passageiro com a glória da Sua Ressurreição.

Hoje a Igreja nos convida a olhar para o sepulcro vazio e a contemplar nele a vida que venceu a morte. Somos chamados a entoar com alegria um grande louvor a Deus por meio do “Aleluia”. Esse canto deve expressar nossa alegria — a alegria da Luz Pascal, porque o Sol da Justiça, o Sol que jamais se põe, ilumina a noite escura de nossas almas. O cristão, pela Ressurreição de Cristo, é chamado agora a cantar as maravilhas do Senhor. Proclamar essas maravilhas é anunciar a vida nova que d’Ele recebemos. Cada um de nós deve fazer morrer o “velho Adão”, o homem marcado pelo pecado, para que ressuscite em nós o “Novo Adão”: o novo Homem, Cristo Ressuscitado.

Com a Ressurreição de Cristo, damos início a um novo tempo — o tempo da nova criação, nascida da doação de Cristo. O homem novo é chamado à Páscoa definitiva. O “primeiro dia”, narrado no Evangelho de hoje, quer salientar isso: neste novo tempo, o homem recebe de Deus, por meio de Cristo, a nova imagem — a imagem do homem redimido, criado não para a morte, mas para a vida divina, a vida da graça.

Este Cristo ressuscitado dos mortos é princípio e fonte da nossa própria ressurreição. No Cristo Vivo está a nossa fé. Nele, como diz São Paulo, “vivemos, nos movemos e existimos” (At 17,28). É o Cristo ressuscitado que dá sentido à nossa vida. É Ele quem realiza e renova todas as coisas.

Com Maria, corramos ao sepulcro! Vamos ao encontro do Senhor — não de alguém morto, mas d’Aquele que vive para sempre!

Palavras de nosso Pai-Fundador, Padre Gilson Sobreiro:

“O Evangelho deste domingo nos conduz ao túmulo vazio, sinal da ressurreição de Cristo: ‘Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras…’ (1Cor 15,3-4).


Se o sepulcro não estivesse vazio, o anúncio da ressurreição de Jesus não teria sido acolhido — nem no passado, nem hoje. Como falar de ressurreição com um corpo jazendo no sepulcro? A ressurreição de Jesus era parte essencial da pregação dos apóstolos. Era o cumprimento das Escrituras, conforme nos disse São Paulo. O inflamado discurso de São Pedro no Pentecostes atesta que de fato aconteceu com Jesus aquilo de que já falavam as Escrituras: ‘…pois não deixarás a minha alma na região dos mortos, nem permitirás que o teu Santo conheça a decomposição’ (At 2,26). Pedro cita aqui o Salmo 16.


A decomposição era considerada o estágio definitivo da morte. Quando o corpo se corrompia, o homem voltava ao pó. Por isso, era de fundamental importância para a Igreja nascente que o corpo de Jesus não tivesse sofrido decomposição. Só assim ficaria claro que Ele não permaneceu na morte — que, n’Ele, a vida venceu definitivamente. Quando João corre ao túmulo, para verificar se o que dissera Madalena era verdade, vê as faixas de linho no chão. E é aí que, ao dar testemunho de si mesmo, escreve: ‘Ele viu e acreditou’ (Jo 20,8).


Detive-me no significado desses dois verbos: ver e crer. O primeiro é uma faculdade do corpo; o segundo, da alma. Em João, corpo e alma estão em perfeita sintonia. Ele é o protótipo daquilo que somos chamados a ser. Sejamos, portanto, testemunhas oculares da manifestação do mover de Deus, que tem transformado vidas, arrancado pessoas dos seus túmulos e as feito ressuscitar.

Não sejamos cegos, nem insensíveis ou incrédulos diante do milagre da ressurreição que Deus tem operado diante dos nossos olhos. Aprendamos com João a ver e crer; com Madalena, a anunciar que Deus tem ressuscitado vidas.


Se todo o mistério da Paixão do Senhor pode ser resumido pela expressão paulina “Humiliavit semetipsum, factus obediens usque mortem” — “Humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte” (Fl 2,8) —, poderíamos também resumir o mistério da Sua Ressurreição com outra expressão paulina: “Autem vivit, vivit Deo” — “Está vivo e vive para Deus” (Rm 6,10). Doravante, não há para Ele senão vida perfeita e gloriosa — vida dedicada mais do que nunca ao Pai e à Sua glória.


Somos convidados, neste Domingo da Ressurreição e durante toda a semana, a participar da glória do Senhor por meio de Seu Corpo glorificado. É pela comunhão sacramental que participamos mais intimamente da superabundância dessa vida perfeita.


Vivamos também nós para Deus! Acorramos diariamente à Santa Missa. A vida nova que brotou da ressurreição do Senhor não termina com a ceia pascal, mas continua no domingo e em seu desdobramento ao longo da semana. Portemos no rosto a alegria do Ressuscitado — e não semblantes ressecados.“

Frei Antônio da Paixão de Cristo, pjc.

 
 
 

Posts recentes

Ver tudo
O Silêncio da Esperança

“Eles tomaram, então, o corpo de Jesus e o envolveram em panos de linho com os aromas, como os judeus costumam sepultar. Havia um jardim...

 
 
 

Opmerkingen


bottom of page