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Ser um Padre missionário

Atualizado: 9 de mar. de 2019



“Ide por todo o mundo e a todos pregai o Evangelho”


Sempre que, como cristãos, necessitamos de um ensinamento, um caminho correto a seguir, devemos recorrer a uma fonte segura e eficaz. Claro que para isso é necessário olhar para a vida de Jesus, ver na simplicidade de Seu nascimento, na convivência com o povo, Sua morte e ressurreição, bem como o grande mandato que Ele mesmo deixou aos Seus discípulos, que por herança também nós, como batizados, o recebemos, a grande via da felicidade e plena realização como ser humano.


Sua permanência no meio de nós, como um Deus humanado, nos revela grandes ensinamentos para a vida pessoal e nos leva a refletir como devemos agir ao sair de nós mesmos e ir ao encontro do outro. Para isso que Ele, em atitude de oração, junto ao Pai, elegeu alguns para que juntos possam realizar o grande projeto de salvação da humanidade, uma vez que, como Deus, poderia ter feito tudo sozinho, mas nos revelou que a vida em comum com pessoas diferentes é um pleno caminho para o seu plano salvífico.


Antes mesmo de adentramos no ser missionário, é necessário saber e ter a plena confiança de que, como missionários, somos frutos da intimidade de Deus e de sua escolha, pois todos nós como cristãos batizados, somos almas eleitas e trazemos com o dom da vida, uma marca indelével de filhos de Deus, que nos garante uma missão que ganha a sua plenitude a partir do momento em que nos colocamos na presença de Deus, a sua escuta como o próprio Jesus ensinou. Assim, assumimos o que nos é proposto com um generoso “sim” e uma total disposição de sermos enviados como discípulos e missionários do Senhor.


A palavra missionário, sendo um substantivo que por si só designa a própria substância, ou seja, a essência, a matéria, é um termo com a origem no latim “substantivu” que significa “substancial”.


Assim, o missionário tem o mesmo sentido básico do termo grego “apóstolo”, que significa “enviado” e para nos ajudar ainda mais. Ao recorrer a Sagrada Escritura, vamos atestar que ser missionário é, primeiramente, ser chamado por Deus com a missão de levar a todos os povos a mensagem da boa nova do Evangelho, respondendo ao mandato do Senhor de ir entre todas as nações (Mt. 28,19).


Nos documentos da Igreja é comum encontrarmos a palavra missionário, basta vermos o documento de Aparecida e vamos encontrar, por muitas vezes, que todo batizado é discípulo e missionário pelo seu batismo, assim como no documento das diretrizes gerais da Ação Evangelizadora (DGAE) 2015-2019, que nos reafirma: “Todos são chamados a contribuir, cada um segundo as suas possibilidades e seus dons por toda a parte e se colocar em formação missionária, de tal forma, que ocupe um lugar preferencial em sua vida cristã”.


O nosso tema nos leva ainda a refletir sobre o ser padre e se colocar a serviço da missão. São João Maria Vianney quando se refere ao ser padre, expressa que o padre pelo ministério recebido é um pastor, segundo o coração de Deus, que leva em si um grande tesouro, que deve ser sempre doado aos que a ele foram confiados, pois o padre não é ordenado para si mesmo, mas possui uma vocação dada por Deus a serviço de um povo que a ele será confiado, sem jamais se esquecer que o seu sacerdócio está intimamente ligado a se colocar todos os dias na presença d’Aquele que o fez sacerdote e pastor, o próprio Cristo.


O ser padre, por si só, é a expressão de uma convocação particular para uma missão específica, isto é, testemunhar com a vida o evangelho e o anunciar com todo amor, por meio de gestos que levem as pessoas a Deus, levem a ver na pessoa do padre a continuidade da missão do próprio Cristo, assim, não é um mérito pessoal, mas uma escolha de Deus, como nos faz entender o texto do evangelista São João: “Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi e vos constituí para que vades e produzais frutos.” (Jo 15,16)


Assim, ser um padre missionário, hoje, na Igreja e também como Fraternidade dos Pobres de Jesus Cristo significa abraçar, com generosidade, uma vocação que é eterna, porque vem de Deus e que exige a cada dia um novo “sim”, pois é por meio dele que renovamos nossa eleição, este grande convite de Deus em ser um homem escolhido, santo, no meio de Seu povo.


Um padre missionário se faz e se deixa renovar as suas forças na intimidade entre ele e Deus, pois hoje a missão é exigente e deve o padre estar em profunda comunhão com o Cristo, na certeza de estar sempre fazendo a vontade de Deus, mesmo que para isso possa passar pela via do sofrimento, como o próprio Jesus passou. Mas aquele que compreende e canaliza que este sofrer não é um caminho que nos deve desanimar e perder o rumo, não leva a infidelidade e a viver uma vida de qualquer maneira ou até mesmo a desistência e o afastamento de Deus, mas pelo contrário, justifica que neste momento quanto mais perto de Deus, buscando estar sempre a sua escuta e abraçando, sem titubear, a missão de ser o outro Cristo no meio do povo, deixando gerar uma profunda intimidade com Deus, por meio da fidelidade a uma opção de vida, a qual se escolheu.


Como nos dizia o papa Francisco, por ocasião do encerramento do ano da Vida Consagrada, que onde há um consagrado deve haver a alegria e ser este sinal da esperança, por isso a grande alegria de ser um missionário onde quer que o Senhor nos envie, sendo em sua terra ou levado a terras mais distantes, a se relacionar com culturas diferentes, reconhecendo a sementes do verbo que são encontradas em diversas realidades.


Pois o belo do padre missionário é poder fazer do povo que a ele foi confiado o seu povo, doar a vida por suas ovelhas, gastar a sua juventude, a sua vida em favor daqueles que o Senhor o confiou, dar de tudo o que recebe de Deus ao povo e de modo especial aos mais pobres, significa dizer que em outras palavras é se lançar neste mundo criado por Deus sem fronteiras, arriscando a vida pelo Senhor e pelos irmãos, carregando na sua própria carne as alegrias e angústias do seu povo, dedicando-se a escuta, dando do seu tempo nobre para curar as feridas de seu povo e oferecendo a ternura e o abraço do Pai das misericórdias.


A plena realização de um padre missionário é sentir sempre perto a presença deste Deus tão grande, que se fez pequeno e acessível a nós e que não o deixa só, pois o mesmo Deus que o chamou, elegeu e confiou uma grande missão é o mesmo Deus que o sustenta e capacita com a criatividade do Espírito, para qualquer realidade. Alguém que se sente a todo momento impulsionado com a mesma criatividade a levar o seu povo as experiências mais belas de quem se propôs a viver do Evangelho.


Aqui, cabe muito bem lembrar o que nos diz São Francisco de Assis, que seja a nossa regra de vida o Evangelho, pois nele contém a eleição divina, a plena realização do ser humano em se sentir chamado por Deus, ser confiado a ele um povo que hora vive em plena alegria e que hora é chamado a viver em plena angústia e amargura, mas que em todos os momentos que vive não é capaz de se esquecer que Deus é aquele que sempre ampara e que é o Espírito Santo de Deus o doador de todos os dons necessários para ser um bom missionário.



Frei Boaventura dos Pobres de Jesus Cristo, pjc.

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